TIAGO MOURÃO CONSTRUCTION TIME AGAIN

As pinturas de Tiago Mourão (Lisboa, 1987) descrevem estruturas desabitadas ou abandonadas, oscilando entre a escala monumental da ruína arquitectónica, o objecto de sugestão minimal, e a coisa banal, de uso quotidiano.

O rigor volumétrico e acabamento das formas denuncia um carácter construído e artificial, sem no entanto esclarecer a sua utilização ou tipologia. Isolados no plano e alheios a quaisquer referências que no-los expliquem, estes objectos apresentam-se semelhantes apenas a si próprios (aspecto evidente nos casos em que uma estrutura surge repetida na mesma imagem). A sensação de isolamento é reforçada pelos enquadramentos centralizados e pelos valores atmosféricos, construindo um tempo e espaço incertos, não localizáveis, nos quais se adivinha uma acção cujo sentido no entanto se desconhece.

Sem outro elemento que fixe a sua escala relativa ou contexto particular, as estruturas representadas por Tiago Mourão permitem que seja, finalmente, o espectador a projectar nelas a grande variação de escalas e de presença humana, admitindo na mesma forma uma ideia de abrigo como a redução a um objecto manuseável.

Construction Time Again é a segunda exposição individual de Tiago Mourão, após “Já Não Estamos em 2001 e Isto não é uma Odisseia No Espaço”, apresentada em Outubro de 2014, no NextRoom – Nextart, Lisboa. Foi apresentada uma série de trabalhos intitulada Odisseia Sem espaço, que consistiu em doze folhas subdividas em doze quadrados, em que cada uma possui uma pintura num quadrado distinto. Neste conjunto de trabalhos, o uso da grelha em que apenas uma imagem está pintada, surgiu ao contactar com programas especificos para realizar pós-edição de filmes e de curtas-metragens e também um paralelismo com os rolos de fotografia analógica, em que se observava no negativo as imagens alinhadas, cada uma contida num rectângulo, sendo esta série, o ponto de partida para o conjunto de trabalhos que irão agora ser apresentados na presente exposição individual na galeria MCO Arte Contemporânea, Porto.

Jorge André Catarino